quarta-feira, 11 de março de 2009

Xenofobismo Barrabrava

É triste, mas comum, ver em estádios europeus as torcidas organizadas entoando cantos racistas, e levando faixas de com conteúdo xenofóbico, a equipe italiana da Lazio, por exemplo, é conhecida por manifestações neofacistas nos estádios de futebol. Na verdade encaro isso como uma consequência da globalização no futebol. Por mais que os times europeus sejam cada vez mais internacionais, é na torcida que aflora o nacionalismo extremado. O Barcelona será sempre a representação máxima do espírito catalão, a rivalidade entre o Celtic e o Rangers na Escócia será sempre a entre o time dos católicos e dos protestantes, por mais que árabes ou judeus joguem o maior clássico de Glasgow. O Crvena Zvezda, o velho Estrela Vermelha de Belgrado, time que revelou o bom meia sérvio Dejan Petković, de passagem por vários clubes brasileiros, será sempre lembrado como expressão máxima do orgulho sérvio, que recrutava voluntários para Slobodan Milošević. O Real Madrid, uma das mais vitoriosas equipes do velho continente é o mesmo que na ditadura Franco era usado como propaganda pelo governo espanhol.

Alguns outros clubes têm histórias diferentes, é verdade que no Brasil inicialmente havia uma segregação no futebol, e praticada por praticamente todos os times, a mudança de postura é que foram lentas em alguns clubes considerados mais elitistas. Porém ainda hoje não dá pra não associar a Sociedade Esportiva Palmeiras (que dá uma vontade de escrever Società Sportiva) do velho Palestra Itália e das mammas (e das mamas das mammas) italianas.

Na Argentina o Boca Juniors carrega a imagem de ser um clube do povo, por mais que um grande industrial torça pelos boquenses, é o time de La Boca, bairro portuário que nasce das vilas de estivadores em Buenos Aires. Por mais que o River Plate também seja oriundo de La Boca, o maior campeão da história dos campeonatos argentinos tornou-se um clube da elite a trocar a sua antiga morada por Nuñez na década de 30. Por essa razão histórica, hoje é o Boca Juniors o principal time escolhido pelos imigrantes bolivianos e paraguaios que se dirigem a Buenos Aires na expectativa de uma vida melhor.

Em 2002 a torcida do River, campeão argentino daquele ano cantava: "¡Cantemos todos que La Boca está de luto, que son todos negros putos de Bolivia y Paraguay!". Agora, em 2009, último final de semana, mais uma vez a Argentina tem casos de racismo no futebol, torcedores do Independiente, equipe que manda seus jogos noturnos com a bela "luna de Avellaneda" (filme de Juan José Campanella, título em português O Clube da Lua), mas que estava jogando no estádio do Huracán, estenderam bandeiras da Bolívia e do Paraguai e entoaram cantos como: "El que no salta es de Bolivia y Paraguay", em provocação aos torcedores do Boca. O ato causou uma série de reações na Argentina, onde a presidenta Cristina Fernández de Kirchner e a embaixada boliviana pediram explicações a AFA e ao árbitro da partida, Sérgio Pezzota, que hoje apita Boyacá Chicó e Grêmio pela libertadores, e não cumpriu o regulamento que exige o cancelamento da partida em casos de manifestações de cunho racista.

Cada vez mais entrarão bolivianos e paraguaios, os povos mais pobres da América Latina, em países como Argentina, Chile e Brasil, vindo apenas com o sonho de uma oportunidade melhor. É um fenômeno que muitos brasileiros e argentinos vivem na Europa e nos Estados Unidos, e que muitos europeus viveram ao chegar à América no começo do século XX. É natural que o ser humano não aceite algo que lhe pareça estranho inicialmente, e que usem a aglomeração e multidão dos estádios para extravasar um sentimento feio, deplorável, mas intrínseco à condição humana. É necessário que os governos de países como Brasil e Argentina criem leis para assegurar aqueles que escolheram seus países para uma oportunidade de vida e garantam a dignidade humana desses povos em terra estranha. Assim como esperam que os seus concidadãos sejam tratados de forma digna por outros povos.